quinta-feira, 9 de junho de 2011

Entrevista Afrox



afro-x
O rapper Afro-X estourou para o Brasil inteiro quando de dentro do maior presídio da América Latina, o Carandiru, montou o grupo 509-E, ao lado de Dexter. Vários shows foram realizados durante saídas autorizadas e assim as ideias difundidas pelo grupo tomaram voz no Brasil inteiro.
Os tempos mudaram, Afro-X é um homem livre e segue em carreira solo. O disco “Das Ruas Pro Mundão” traz várias participações entre elas Sandra de Sá, CPM22, Edu Ribeiro e Afrorreaggae. O mais novo lançamento é o videoclipe da música “Ninguém Pode Proibir”, com participação da banda CPM22. Outros videoclipes estão em fase de gravação, entre eles o da música “Paixão do Brasileiro”, com craques do futebol como Neymar, Cafu e Denílson. O som “Todos os Olhos em Mim” também vai virar videoclipe. A ideia é produzir 13 clipes que farão parte do DVD que será lançado no próximo ano.
Pela primeira vez o Portal Rap Nacional traz uma entrevista com Afro-X. Batemos um papo com ele para conhecer melhor a pessoa, saber mais sobre a carreira e os projetos que ele está envolvido. Confira abaixo a entrevista exclusiva, faça o download das músicas e participe da promoção que dará um CD por dia e no final do mês um kit com camiseta, celular e entre outras coisas um convite para participar do próximo videoclipe de Afro-X.


PORTAL RAP NACIONAL: Quando e porque o Cristian de Souza Augusto passou a se chamar Afro-X?
Afro-X:
 Tenho uma correria de mile dia no rap que começou em 1987. Mas só dentro da prisão com formação do grupo Linha de Frente posteriormente 509-E que lancei este nome, já pensando numa marca, pq o nosso país é composto de 60% de afro-descendentes. Já o X, em princípio foi uma homenagem a Malcom-X, me espelhei muito na sua ideologia no início da carreira, hoje classifico o X como uma incógnita. Significa qual é a identidade do afro-descendentes, outra definição é que o X é = (vezes) multiplicar jamais dividir.



R.N.: O que mais marcou nesses 23 anos de carreira?
Afro-X:
 Atuando como profissional o início foi em 1999 com a participação com o grupo Linha de Frente na coletânea do Escadinha e em 2000 o lançamento histórico do 509-E. Mas o que mais me marcou foi o efeito viral com o grupo saindo do maior presídio da América Latina e atingindo o Brasil e o mundo. Se tornando um exemplo dentro do sistema prisional, recebendo inúmeras cartas que jovens largaram o crime por causa do rap, depois a consagração de dividir o palco com Racionais no Millenium Rap.



R.N.: O discurso e a postura mudaram ao longo dos anos?
Afro-X:
 Acredito que o discurso não mudou só aprimorei a estratégia, porque o sistema não pode saber nossas reais intenções. Com o passar dos anos resolvi ficar mais positivo nas idéias porque além da evolução vejo que a periferia, o público em geral precisam desta reciclagem e o que fizermos de bom retornará em benefícios. Hoje em dia analiso muito meu papel como formador de opinião e responsabilidade no que escrevo e o discurso só é válido se tiver prática. Não adianta só ficar falando gíria e a molecada se ligando que ninguém ta praticando o que fala, aí nosso público migra para os outros ritmos porque não estamos cumprindo com a nossa responsa.



R.N.: Como é a sua relação com o Dexter? Existe alguma rivalidade entre vocês?
Afro-X:
 Não gosto muito de ficar me remoendo ao passado, porém sem hipocrisia, mas desde o término do 509-E que não foi a minha decisão, entrei em contato com ele algum tempo atrás para desfazer os maus entendidos porque com o fim de toda relação sempre tem uma parte que fica chateada, acredito que fiz minha parte. Agradeço primeiramente a Deus e ao 509-E pelo que sou hoje e prossigo de cabeça erguida.



R.N.: Durante quanto tempo você se dedicou ao livro “EX-157, A História Que a Mídia Desconhece”?
Afro-X:
 Escrevi 70% do manuscrito dentro do cárcere e mandava para rua para ser digitado. Quando saí por incrível que pareça perdi todos os arquivos, aí desencanei de lançar o livro. Após um show em Porto Alegre um fã me enquadrou e perguntou se havia lançado o livro, foi aí que despertou novamente o interesse de lançar este projeto e como era um projeto de Deus consegui recuperar os arquivos, finalizei o restante da escrita, vários parceiros me apoiaram, consegui patrocínio da Petrobras e vendemos 2.000 livros. Agora será feita uma nova edição.



R.N.: Qual a importância da leitura na vida dos jovens?
Afro-X:
 O projeto de meu livro objetiva o incentivo a leitura através da identificação com o autor. É comprovado estatisticamente o título do país que se menos lê no mundo, mas as pessoas não lêem porque não se identificam e isso é um plano do sistema, eles querem emburrecer as pessoas porque sabem que a leitura liberta e o conhecimento é o maior poder que podemos ter. Acredito que o ser humano é condicionado, e através de minha história as pessoas são estimuladas a lerem e descobrem a importância da leitura para ampliar seus horizontes.



R.N.: Qual a principal mensagem que você transmite nesse livro?
Afro-X:
 Além de apontar as falhas do sistema entre os fatores desigualdade social, falta de educação, sonho de consumo, as drogas e a desestrutura familiar eu aponto o segredo para os leitores vencerem essas adversidades do capitalismo e além de denunciar a problemática com experiência de causa mostro as possíveis saídas.



R.N.: Você pretende lançar outros livros?
Afro-X:
 Tomei gosto pela coisa, porque nas minhas letras não cabiam tantas idéias, estou com mais três projetos de literatura “marginal”, um é infanto-juvenil faixa etária carente de informações, o outro une a arte do grafite, poesias e textos e o terceiro é uma ficção da vida real porque não posso expor a história deste personagem.



R.N.: Em 2009, foi lançado o documentário “Entre Luz e Sombra”. Esse vídeo foi exibido nos mais importantes festivais do mundo e teve ótima repercussão. O que isso representou na sua história?
Afro-X:
 De repente o Afro-X virou multimídia CD, Livro e Filme sou privilegiado, como Deus é bom. É gratificante demais. Oportunizou as pessoas a conhecerem um mundo que não conheciam: debates, discussões e retrato do sistema prisional Carandiru e tal, Rap Nacional no auge, o papel da sociedade porque o preso é o reflexo da sociedade, a figura de um juiz que contrariou os princípios da justiça cética e a persistência de uma cineasta que nos acompanhou durante 09 anos de nossas vidas. Mais uma vez o rap rompendo fronteiras.



R.N.: Você pode nos contar quando e como aconteceu a sua conversão?
Afro-X:
 Eu era igual ao apóstolo Paulo, não perseguia mas criticava muito os crentes, mas Deus tinha uma promessa na vida do Cristian de Souza Augusto. E a promessa Dele se cumpre porque a palavras de Deus não volta vazia. Aconteceu no momento de muita turbulência, fundo do poço, a pressão com fim do 509-E, casamento e falência financeira. Foi quando conheci a Jesus Cristo, ele me acolheu, me transformou, restaurou tudo o que havia perdido, porque a palavra de Deus diz: Ageu 1:9 “A glória dessa segunda casa será maior do que a primeira…” Não é bicho de sete cabeças não, é só uma decisão de atitude que você tem que tomar e a mudança acontecerá com o tempo e você colhe o fruto do evangelho transformador, porque existe vários caminhos mas só um nos leva a Deus.



R.N.: No mês de julho você lançou a coletânea do Projeto Movimente. Qual a sua participação nesse projeto?
Afro-X:
 Além de coordenador e educador, foi minha contrapartida diante da oportunidade que tive anos atrás que era realizar o sonho de gravar um CD de rap. Hoje sou um caça talentos porque existem vários talentos anônimos que precisam ser descobertos. O projeto trabalhou um ano em 09 comunidades de São Bernardo do Campo, minha cidade natal, atendemos 2.600 jovens com faixa etária de 06 a 17 anos, resultado: ficamos com 48 grupos no qual 24 grupos gravaram a Coletânea Movimente Vol. 1 e um vídeo clipe. O projeto deu certo e começamos com o Vol. 2 em mais 07 comunidades de São Bernardo do Campo, ano que vem tem mais novos talentos.



R.N.: Você também é fundador da Ong Super Ação. Como surgiu essa iniciativa e quais são as principais atividades realizadas?
Afro-X:
 Devido a minha realidade, eu sempre me sensibilizei com a questão social e como uma pessoa pública tive mais acesso ao desenvolvimento da responsabilidade social, na real a Super Ação só é uma formalização desse projeto de anos, o nosso foco e meta principal são atividades voltadas para educação, cultura e esporte através dos agentes multiplicadores que estamos criando, tirando os jovens da rua e minimizando o envolvimento com a criminalidade.

R.N.: Porque fazer uma música em homenagem ao jogador Neymar?
Afro-X:
 Sou santista nato, mas na real a música não foi em especial ao Neymar, ele é citado nos versos, devido ao bom trabalho de resgate do futebol arte pelos meninos da Vila, a frustração de não ter ido a Copa acredito que a maioria dos jogadores tem histórias parecidas com o som “Paixão do Brasileiro”. Decidimos fazer o vídeo clipe e contamos com vários outros boleiros como Cafu, Denílson entre outros… que curtiram a batida da mistura perfeita de rap, samba e futebol. Logo mais vocês poderão curtir este clipe nas telinhas com imagens fantásticas e toda magia desta união.



R.N.: As gravações do vídeo clipe desta música já foram feitas. Mas, quando ele será lançado?
Afro-X:
 O Afro-X sempre foi muito ousado e controvertido. Em primeira mão estamos anunciando o projeto de gravação de 13 vídeos clipes do álbum “Das Ruas Pro Mundo”, com Afro-X cuidando das super produções e roteiro, participações especiais, com direção do renomado Vras77 e até o ano que vem lançaremos um DVD com os clipes. Nosso público merece som e clipes de qualidades e estamos nessa vanguarda para fazer a diferença. Vamo que vamo. Afro-X nas pistas “Das Ruas Pro Mundo”



R.N.: Como surgiu a ideia de gravar um som com o grupo CPM22?
Afro-X:
 Conheci o Badauí por intermédio de um amigo skatista e descobri que ele era do 509-E e do rap nacional e sempre quis fazer uma música com a pegada diferenciada. O que mais nos uniu foi sua humildade e disponibilidade. Juntamos as idéias e produzimos esse som.



R.N.: O videoclipe dessa música foi gravado num heliponto da avenida Paulista. Fale um pouco sobre esse vídeo.
Afro-X:
 A música “Ninguém Pode Proibir” já no seu significado merecia algo desse nível, quanto ao heliponto foi algo de Deus, não pagamos nada por isso, simplesmente tive a idéia, tenho uma mina maravilhosa que corre comigo e os contatos, aí fica fácil neguim! Luz, câmera e ação!!!



R.N.: Como o público aceitou o disco solo “Das ruas pro mundão”, lançado no final de 2009?
Afro-X:
 É um CD experimental, inovador e independente, as pessoas vêm elogiando e estão assimilando o trampo. E modéstia parte só vem a somar no rap nacional.

Me preocupei muito com o contexto, a mensagem e a produção musical direcionado para o público adepto e expandindo por todas as classes. Estou começando a colher frutos.


R.N.: Nesse trabalho você contou com a participação de artistas de outros segmentos musicais, como Sandra de Sá. Qual objetivo dessa mescla musical?
Afro-X:
 A Sandra de Sá é muito loka, a nega é demais, imaginem eu ouvia o som dela na minha infância, meus pais curtiam, de repente lado a lado dividindo estúdio, assim também foi com a parceria com Carlos Dafé, Edu Ribeiro, Afroreggae, Lino Crizz… foi uma grande experiência trabalhar com eles. Descobri que o rap tem um grande respeito por parte deles, isso só vem acrescentar e fortalecer enquanto música e reconhecimento, sem contar que a mistura fica contagiante, pra cima sem perder a essência do rap.



R.N.: O disco “Das Ruas Pro Mundo” vai virar DVD?
Afro-X:
 Assim que finalizarmos os 13 vídeos clipes faremos a gravação do DVD para convidados.



R.N.: Esse ano temos eleições para Deputados, Senadores e Presidente. Você considera importante o Hip-Hop eleger pessoas de dentro do movimento para ocuparem esses cargos?
Afro-X:
 Temos que participar porque quem não participa não pode opinar com voz ativa, acredito que temos que ocupar os espaços da sociedade em todos as profissões e cargos disponíveis. O rap já está maduro suficiente, já comeu 1 kg de sal e agora é o momento de colher os frutos e retornar em benefício para o movimento.



R.N.: Deixe um salve para o público do Portal Rap Nacional.
Afro-X:
 Isso serve para mim também. Muita fé em Deus, porque estamos vivenciando tempos difíceis. Tudo o que fizermos temos que fazer com amor. Precisamos ter mais união principalmente entre os elementos da cultura Hip-Hop, fortalecer, valorizar os grupos do movimento, repensar nossos conceitos, praticar o discurso, ter ética, respeitar, deixar de ser vaidoso, egocêntrico e donos da verdade. Resgatar nossa consciência lembrando que rap é música. Pensar que as culturas urbanas estão interagindo, quem não acompanhar as mudanças vai ficar pra trás e nunca deixe de acreditar em seus sonhos porque eles serão o passaporte da sua vitória.


Texto e Entrevista: Elaine Mafra

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