quinta-feira, 9 de junho de 2011

Especial Mulheres - Atitude Feminina



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Para as mulheres a realidade nem sempre é cor de rosa, mas elas fazem da realidade um arco iris repleto de cores e significado que só as mulheres entendem e sabem interpretar.
O grupo Atitude Feminina é um dos poucos grupos brasileiro formado só por mulheres, cada uma delas leva um elemento feminino diferente ao palco, e mostram através de ações, sons e emoções quem é a verdadeira mulher brasileira.
O grupo Atitude Feminina, com Hellen, Giza Black nas rimas e Aninha no backing vocal, estão juntas desde a sua primeira formação no ano 2000, e desde o começo, elas chamaram a atenção para o lado feminino do movimento HIP HOP, pelo seu engajamento contra violência doméstica e a discriminação das mulheres das classes mais humildes da sociedade.
Com as fortes letras, as suas músicas conseguiram destaque entre os jovens da periferia, sendo muito requisitadas para apresentações em todo o Distrito Federal e Entorno, além das cidades de Goiânia, Barreiras, Belo Horizonte, São Paulo, Piracicaba, Rio de Janeiro e Fortaleza entre outras.

Como está a cena do Rap aqui no DF?
Aninha - Está evoluindo, está crescendo muito, a Atitude Feminina está aí há dez anos na estrada e aqui tem muitas mulheres que rimam, tem a Taty, do grupo Belladonna, tem algumas meninas do entorno, tem algumas meninas gospel como o Relato Feminino. E o rap feminino aqui cresceu muito, da época que a Atitude Feminina começou rimando, para hoje, tem mais mulheres. Agora falando no mercado, de uma forma geral, aqui é muito grande, apesar de não termos muitos espaços para cantar e por isso muitos grupos bons desaparecem, param e infelizmente desistem de seus sonhos.

Qual o sentimento de ter lançado o “CD Rosas”, que ultrapassou as fronteiras do DF, dando ao grupo prêmios e visibilidade nacional e internacional?
Helen
 – Foi maravilhoso, eu não tinha noção que iria chegar tão longe, eu tinha uma visão que a musica seria tocada mais em Brasília, no máximo cidades mais próximas, mas graças a Deus repercutiu muito, foi muito bom mesmo. Uma pena que nem eu e nem a Giza pudemos comparecer mais nos eventos fora do DF, pois estávamos na correria, mas o pouco que a gente participou foi muito bom, mas o próximo vai ser melhor.
Giza –
 O mais importante de tudo é a satisfação de ver as pessoas chegarem e ouvirem a nossa música, acharem “massa”. Minha patroa mesmo chegou com o jornal falando que tínhamos ganhado o prêmio Hutúz de Revelação, sendo que nem eu mesmo sabia disso. O melhor de tudo é ver mesmo a satisfação das pessoas, ver que elas têm o carinho e que reconhecem o trabalho de cada uma. Mesmo com as dificuldades, por que foi muito difícil fazer o primeiro CD, mas é uma satisfação.
Aninha –
 Às vezes a gente não tem noção da responsabilidade que é ser chamada de Atitude Feminina. E quando se fala em Atitude Feminina é sempre lembrada a música “Rosas”. E você acaba não tendo noção, será que o trabalho foi bem feito, foi bem desenvolvido e aí quando chega uma mulher dizendo: “eu denunciei por causa da música Rosas”, “eu tive coragem de denunciar por causa da música Rosas” e maravilhoso. Eu conheço uma pessoa que diz que foi preso por causa da música. Eu creio que a gente conseguiu fazer um trabalho – mesmo sem a gente querer – bem feito. Foi um trabalho que a gente deu um ponta pé e aconteceu, pois como a gente sempre falou, as meninas sempre trabalharam muito, pois elas tem filhos, tem que se sustentar e agora como a gente vai fazer show? Mas quando aconteceu o “Rosas” a gente se colocou dentro da música por ser mulher e de ter vivido dentro de casas atos de violência.

Quais são as principais ações que vocês desenvolvem ou já desenvolveram como grupo fora dos palcos?
Aninha – 
Além dos palcos nós participamos da Campanha Nacional nos Colégios Contra a Violência a Mulher, Campanha sobre Sexualidade, Campanha Contra as Drogas, Fóruns e Palestras em Colégios, Shows nas comunidades em parceria com a secretaria de ações comunitárias, distribuição de enxoval para mulheres grávidas, material escolar para crianças que as mães não têm condições para comprar e projetos sociais em parceria com a Associação Cultural Claudio Santoro.

Por que vocês fazem essas ações?
Aninha – Realizar o sonho de uma criança, dar o material escolar básico para elas, ouvir uma mãe falar que agora ele tem frauda para os seus filhos, que tem uma manta para eles, pois muitas vezes essas mães que saem do hospital não tem dinheiro para comprar a frauda e nem um kit de saída de maternidade. E como o índice de jovens e adolescentes grávidas aqui no DF é grande, o governo acaba não dando conta de distribuir esse kit para todas. E maravilhoso você ir ao o colégio e cantar para um menino que é menor de idade e não pode ir a um baile de rap, ou a família não gosta que ele vá… É prazeroso pra gente fazer esse trabalho. As mães depois olham a nossa musica com outros olhos.

Em 2006 vocês lançaram o primeiro videoclipe do grupo, com da música “Rosas” que fala sobre a violência doméstica e que hoje só no Youtube tem mais de 1 milhão e 300 mil acessos. Me fale um pouco do que levou vocês a compor esta letra?
Aninha - Escrevemos esta música em parceria com o Wty marido da ex-integrante do grupo Jane e o Sorel, baseado em nossas próprias histórias e experiências. Presenciamos muitas vezes na nossa infância cenas de violência dentro de nossas casas e alguns namorados violentos que tivemos e escrevemos essa música para mostrar que não é por que a gente tem 14, 16, 17 anos… Não é por que nós éramos adolescentes que não tínhamos coragem de denunciar, acho que foi mais por isso.

Como foi o processo de produção do videoclipe “Rosas”?
Aninha - Não foi pensado, não foi uma coisa pensada, de repente eu conheci a Re.Fem. e descobri que ela fazia clipe, comentei com o Raffa e ele achou legal a idéia de convida-la para fazer o roteiro e a direção. Quando ele ouviu a musica se interessou pelo trabalho. Então ela articulou tudo e eu não tenho muito que falar do processo de produção, mas eu me lembro que no dia da gravação eu quase que apanhei da equipe (risos), pois nós entramos no estúdio a meia noite e saímos as 4h da manhã, por que eu tive uma crise de risos de nervoso, pois na hora da gravação eu lembrava muito das agressões do meu pai na época que eu era criança e ao invés de eu ter uma crise de choro eu tive uma crise de risos que eu não conseguia gravar de jeito nenhum, gente eu ria tanto… Eu acho que o que levou mesmo a fazer o clipe foi denunciar mesmo, foi à mulher ver ali a realidade, porque as campanhas nacionais são mais escritas em um panfleto… Aquilo ali você lê e joga fora, mas quando você vê ali aquela imagem e você se dá conta que isso pode acontecer comigo isso dá um “báki”, entendeu?

E qual foi o retorno do público?
Aninha – No começo eu fiquei com medo, pois tinha “uns caras” que olhavam pra gente meio torto… E hoje não, os mesmos caras que olhavam pra gente torto, hoje eles falam:
“Olha se não fosse essa música eu teria matado a minha mulher”.
“O meu pai tinha matado a minha mãe”.
”Obrigado, esta música me deixou mais consciente”.
Então a gente teve um retorno muito bom. Quando um homem chega para você e fala:
“Cara, essa música mudou a minha vida…” ou uma mulher fala:
“Eu tive coragem de denunciar por causa dessa musica…”
A musica já teve o seu propósito.
Quando o meu pai escutou a música e falou assim:
“Ana, eu não vou ser mais um agressor, eu não vou bater mais em ninguém.”.
Aí você fala assim:
“Consegui um pedacinho do céu!” Porque você conseguir mudar o seu pai que tem sessenta anos, e eu que só tenho 28 anos, é punk.
LANÇAMENTO EXCLUSIVO NA INTERNET, ASSISTA O VÍDEO:


Agora vocês acabaram de lançar o videoclipe, da música “Enterro do Neguinho”. Quais são os motivos que as levaram a produzir o videoclipe?
Aninha – Foi o de mostrar para as comunidades, não só as do DF, mais principalmente as de São Sebastião. Os índices de violência na cidade são altos, pois tem dia que ela está em primeiro lugar, hoje ela está em terceiro. Mas a mensagem principal é de que o crime não compensa e a música em si, ela está levando a mensagem para os meninos que não adianta eles acharem que o crime é diversão, não é diversão, ou é cadeia ou é caixão e na maioria das vezes não é nem cadeia, é caixão mesmo. É triste que o índice de violência no Entorno de Brasília ainda é muito grande, chega a ser maior do que o da Baixada Fluminense.

Qual a mensagem que vocês pretendem transmitir com este vídeo?
Aninha 
- A mensagem central do vídeo é mostrar que o crime não compensa e que existem outras saídas para se conseguir dinheiro, para conseguir fama, sem se meter na criminalidade e sem querer matar ninguém.

Hoje depois de 4 anos vocês estão em estúdio produzindo o próximo CD do grupo, como está este processo?
Aninha -
 Cansativo principalmente (risos), muito cansativo, um pouco demorado, porque as meninas andam muito ocupadas com suas vidas particulares, mas está sendo bem prazeroso, já teve música que a gente gravou chorando, teve música que mexeu muito comigo, com a Hellen e com a Giza, que acaba envolvendo o nosso passado, tem uma música que fala sobre violência infantil, isso aí está sendo punk pra nós.

O que o público pode esperar desse novo trabalho?
Aninha – Que está sendo feito com carinho, com muito carinho mesmo, com muito amor e muita dedicação.
A gente está pesquisando muito, escrevendo com cuidado e cantando com cuidado para que as pessoas entendam o que estamos querendo passar. E continuamos com a mesma temática do primeiro CD que é a denúncia e a conscientização.



á tem uma previsão do lançamento do novo CD?
Hellen - O nosso CD está previsto para o final deste primeiro semestre, se DEUS quiser!
Tem algum show de pré-lançamento do CD já previsto?
Giza - Já temos alguns shows de pré-lançamento do CD, o primeiro foi no 4º Festival do Hip Hop do Cerrado na Torre de TV e temos mais shows marcados em São Paulo, Palmas, Goiana e outros lugares que ainda serão confirmados.

Deixem uma mensagem para o Portal Rap Nacional e para o Mundo que estão lendo a sua entrevista.
Aninha Hellen e Giza – “Quem ama não mata, não humilha e não maltrata”. “Realidade dói mais tem que ser dita!” “Fiquem com Deus”.

Entrevista: Janaina Oliveira (Re.Fem)
Texto: Janaina Oliveira (Re.Fem) e Cristiane Oliveira
Revisão: Raffa Santoro (Dj Raffa)
Fotos: Divulgação
Fonte: www.rapnacional.com.br e www.enraizados.com.br

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